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RESENHA HARARI, Yuval Noah. 21 Lições Para o Século 21. Capítulo 5:

Os Humanos têm Corpos

              O texto aborda um assunto necessário a ser discutido para nosso tempo. Como o autor Harari, também confesso ter receios do quanto é depositado na tecnologia e o quanto de fato ela pode devolver e, se essa devolução não está trazendo mais malefícios do que seu oposto.

              No entanto, o texto em si é pouco profundo, se debruça a apenas um exemplo, o Facebook, e traz argumentos que não se desenvolvem completamente  como “ Sem esses grupos, os humanos sentem-se solitários e alienados.” Acarretando após a leitura um sentimento de ter lido o mais óbvio, um clichê.

              Mas bem, apesar de sentir falta de maior profundidade, o posicionamento estratégico no texto da frase “Seres humanos têm corpos”, me fez segurar a respiração por um tempo. De fato, não nos atentamos a esse grande detalhe, temos corpos e eles têm necessidades, tem sua própria linguagem, tem vontades. Assim, até que ponto a tecnologia os leva em consideração?

               O on-line, tão debatido no texto junto com seu oposto off-line, será capaz de suprir as necessidades de nossos corpos? O autor é claro e lúcido em seu protesto “ ... um par de olhos e um par de orelhas conectados a dez dedos, uma tela e um cartão de crédito.”, mas se um dia nossos outros sentidos estiverem equiparados com a visão e a audição, será que haverá uma transformação tão grande? Será que a ideia de total imersão ou possibilidade de compartilhamento integral irá se concretizar? E será que é isso que nos falta?

              A solidão é um sentimento inerente a nós. A tecnologia, as redes sociais, a internet em si nos trouxeram muito e nos modificaram mas, vale pontuar que nós seres humanos possuímos um grau complexidade extenso, se por um lado a tecnologia trouxe um novo movimento para humanidade, em outro, ela apenas ressaltou o que já existia. A solidão e o afastamento, a busca por auto-exposição e a auto-depreciação, a inércia em atividades pobres mentalmente.

              O que não deixa de ser uma preocupação relevante se o uso da tecnologia tem nos causado mal e como ela pode ser melhor usada. Zuckerberg ao propor sua comunidade global esqueceu-se tanto que seres humanos têm corpos e quanto ainda há limites tecnológicos.

              No ambiente on-line não existe diálogo. Uma frase um tanto fatalista mas que explico. Vamos pensar na situação mais positiva em que um indivíduo se encontra numa fase de abertura para o que é diferente, no que toca seus pré-conceitos. Ele parte para internet, encontra pesquisas sobre tal tema que era delicado, interage com postagens no com amigos no Facebook, começa a ouvir pessoas que não apenas pensam diferente mas que tem bons argumentos como defesa.

              Porém, esse mesmo indivíduo que está no começo de sua abertura pode encontrar um comentário ou outro tipo de conteúdo que não estava preparado para, por não conseguir entender o contexto, por ser muito radical naquele momento, por não conseguir separar as situações. E ele se fecha novamente.

              Por isso que disse que no on-line não há diálogo, ao ler tal comentário, o guardou para si, não possibilitando nenhum tipo de troca. E quem fez o comentário não poderia imaginar tal situação. Portanto, não é possível uma interação genuína de todos entre todos.

              Haveria de ser uma situação diferente se essas duas pessoas estivessem no mesmo ambiente, o off-line, e pudessem conversar? Creio que sim.

              Outra questão dos limites da tecnologia é a abertura. Ser um indivíduo aberto e com reflexões críticas de si e do mundo é um dos mais grandes desafios da humanidade, sendo uma ligação direta com educação e prática. Porém, tenho que dar o mérito da tecnologia de seu alcance de comunicação que possibilita  com que mais e mais conhecimentos e vivências sejam transmitidos. No exemplo do feminismo, apesar das diferenças e faltas de abertura, estamos vivendo hoje uma fase histórica de transmissão de relatos e estudos nunca visto antes, fazendo com que haja movimento, transformações e vida.

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